Dia da água, dia de tudo
Néri de Barros Almeida
Presidente da Comissão Assessora de Mudança Ecológica e Justiça Ambiental
DeDH/Unicamp
Para quase todas as crianças constitui motivo de maravilhamento aprender que, como nosso planeta, nosso corpo é constituído por 70% de água. Essa simbólica e concreta comunhão entre nós e o planeta, exige que nos mantenhamos atentos e mobilizados em torno das variadas manifestações da água e suas interações com os seres vivos, o clima e a morfologia do planeta. Diante disso, parede inacreditável que as águas do planeta estejam permanentemente em risco devido à ação humana. Assim, se o primeiro direito humano é o direito à vida – vida digna! -, a defesa dos direitos humanos passa, necessariamente, pela defesa das águas planetárias.
A racionalização do uso da água potável é um item essencial que envolve hábitos individuais como, por exemplo, o questionamento de seu uso – absurdo! – em vasos sanitários e na limpeza de calçadas. No entanto, a degradação da água é mais vasta, contínua e definitiva do que imaginamos. E para protegê-la temos que considerar a sua função essencial à vida, a natureza de seu ciclo planetário e as razões culturais e históricas que apoiam sua degradação. É preciso lembrar, por exemplo, que a tão propalada abundância de água no Brasil é ilusória se levarmos em conta a exploração privada, irregular e indocumentada das águas superficiais dos aquíferos e a contaminação química de seus extratos mais profundos. Isso sem contar o perigo de sua salinização com o aumento do nível do mar decorrente do degelo e da expansão das águas do mar devido ao aquecimento climático. Aliás, é apenas graças à absorção do impacto térmico pelo oceano que as temperaturas planetárias continentais ainda nos oferecem uma janela de oportunidades, embora esta se torne cada vez menor.
A contaminação das águas dos rios pela indústria, mineração e esgotos urbanos já compromete a qualidade da água de praticamente todos os rios do país. Isso pode ser verificado pelo aumento da frequência de tumores na população indígena. O aquecimento global gerado fundamentalmente pela emissão de CO2 resultante do uso de combustíveis fósseis, é hoje a maior ameaça às águas em nosso planeta. Já é possível identificar o aumento da indisponibilidade de terras férteis em diversas partes do planeta, inclusive no Brasil, o que significa, à medida em que o problema se acelera e consolida um novo status da biosfera, a diminuição progressiva da segurança alimentar planetária. O desmatamento, não pode deixar de ser notado, uma vez que a interação entre florestas e dessas com outros ecossistemas são parte de um regime responsável pela produção de água. Mas as florestas têm ardido também por causas naturais devido ao ressecamento produzido pelo aumento das temperaturas. Falar de água portanto, nos coloca no coração de uma questão sistêmica que demanda nosso posicionamento.
Comemorar o dia da água é um convite para pensarmos um pouco mais detidamente em tudo isso. Suas atitudes podem não mudar o mundo, mas elas fazem parte de uma mudança cultural que irá informar a mudança política que mudará o mundo. Ano a ano temos observado saltos na luta em defesa do meio ambiente. Faça sua parte com práticas responsáveis e solidárias com o planeta e seus habitantes. Estamos todos conectados pela vida em uma espécie de inteligência planetária que aponta o caminho. Aposte nas soluções da crise. Cuidando da água, você cuida do planeta e enxerga melhor as soluções para a restauração, preservação e valorização da vida na Terra!