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Na última sexta-feira, dia 08 de abril de 2022, aconteceu a homenagem aos cadáveres negros do laboratório de anatomia. O evento foi organizado pela 59ª turma de medicina da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) junto ao Coletivo Quilombo Ubuntu com apoio da Diretoria Executiva de Direitos Humanos (DeDH) da universidade e do Centro Acadêmico Adolfo Lutz.

Iniciativa dos estudantes negros da turma, o evento inaugurou a placa com a homenagem prestada aos cadáveres negros usados para estudos no Laboratório de Anatomia do Instituto de Biologia (IB).

A diretora executiva de Direitos Humanos da Unicamp, professora Silvia Maria Santiago, afirmou que a ação traz à discussão o papel do negro na universidade. “Negro é aquele que constrói as paredes ou que depois limpa os espaços, ou aquele que está na mesa fria de uma sala de anatomia? Ou o lugar do negro pode ser o lugar do estudante, o lugar do pesquisador, o lugar do docente, o lugar do técnico especializado?”, questionou.

“Nós estamos reverenciando esse anônimo cadáver da anatomia patológica, o negro, mas apontando para a frente, que é a defesa de que o negro possa ocupar um lugar de destaque dentro das universidades”, disse. Os cadáveres usados no laboratório da instituição são, em sua maioria, de pessoas negras. Em geral, segundo Silvia, os corpos destinados a estudos correspondem a pessoas consideradas indigentes.

A professora contou que essa turma de medicina despertou para a questão dos cadáveres negros do laboratório no ano passado, primeiro ano na universidade, durante aula sobre ética médica, em que Silvia falou sobre racismo na universidade e na sociedade. “Foi chocante para o estudante negro, quando começou os seus estudos na anatomia, perceber que a maior parte dos cadáveres era de negros, então eles questionaram por que a maioria tem que ser de corpos negros.”

Aparecida do Carmo Miranda, mais conhecida por Tida, assistente social na instituição relatou que por um período de seis anos o curso de medicina não teve nenhum estudante negro e que os poucos estudantes negros das turmas anteriores pediram socorro à ela, ao constatarem o grande contraste de maioria de corpos negros no Laboratório de Anatomia e uma minoria negra na universidade. A servidora da universidade elogiou o evento e afirmou que a partir daquele dia a universidade jamais será a mesma.

O evento teve apresentações artísticas de Fabiana Cozza e Ilessi, ambas artistas doutorandas do Instituto de Artes da UNICAMP, junto ao percussionista Douglas Alonso. Também se apresentou a cantora e compositora Marília Corrêa com a música de Elza Soares “A carne”, emocionante performance embalada pela forte chuva e ventos que envolveram o Teatro de Arena do campus de Campinas da UNICAMP.

Estiveram presentes no evento o professor Everardo Magalhães Carneiro, diretor associado do Instituto de Biologia (IB), professor Wagner José Fávaro do IB e o reitor  da UNICAMP, professor Antonio José de Almeida Meirelles.

Os artistas Fabiana Cozza, Ilessi e Douglas Alonso.
A assistente social Tida afirma que a universidade de hoje em diante não será mais a mesma. Ao fundo, a estudante de medicina Janaína Hora, uma das organizadoras do evento.
O reitor da UNICAMP Antonio José de Almeida Meirelles.
O professor Wagner José Fávaro do Instituto de Biologia da universidade.
O evento aconteceu na sexta, dia 08/04/22, no Teatro de Arena do campus de Campinas.
Professora Silvia Santiago, diretora executiva de direitos humanos e docente da Faculdade de Ciências Médicas da universidade.
Organizadores do evento, iniciativa dos estudantes da turma 59 do curso de medicina da UNICAMP e do Quilombo Ubuntu, representantes do Centro Acadêmico Adolfo Lutz e da Diretoria Executiva de Direitos Humanos.
A placa de homenagem que será fixada no Laboratório de Anatomia do Instituto de Biologia da UNICAMP.
A estudante de medicina, Janaína Hora, em frente à placa de homenagem aos cadáveres negros que foi afixada no Laboratório de Anatomia do Instituto de Biologia da UNICAMP.

Imagens: Wagner Romão / Fabiana Canto Tito / Janaína Hora

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